Os eventos deste início de ano nos ensinaram muito sobre Compaixão. Percebemos uma sensibilidade em comum com a experiência do sofrimento humano, combinado com o desejo profundo e genuíno de aliviar o sofrimento do outro.

Muitos pacientes, amigos e conhecidos relataram a emoção que sentiram ao receberem as notícias e o que faziam com a intenção de aliviar a dor e o sofrimento do outro. Em vez de desviar o olhar, como muitas vezes acontece na vida diária, paramos para refletir sobre como as coisas foram e ficaram difíceis para aquelas pessoas. Compaixão literalmente significa “sofrer com”. Assim como o desejo ou tendência de comportamento atrelada ao medo é fugir, da raiva é atacar e da vergonha é esconder-se, a compaixão pede que ajudemos.

Compaixão não é pena, não é lástima, não é autoengano. Pena é sentir uma tristeza profunda por uma alguém que passa por uma situação difícil, mas sem gerar conexão com essa pessoa. A lástima fala sobre superioridade, enquanto na compaixão a relação é horizontal. Também não é autoengano, pois enfatiza a utilidade mais do que a evitação do sofrimento. Compaixão está mais próxima da empatia e da amabilidade.

Sem que pudéssemos perceber estávamos desejando que aquelas pessoas e familiares se libertassem do sofrimento, que encontrassem paz, que se sentissem seguras. Estas frases são comuns na prática de Mindfulness chamada Bondade Amorosa. Podemos considerar que a bondade amorosa direcionada a alguém que sofre é compaixão. A compaixão pelos outros é, em diferentes culturas, a forma de compaixão mais aceitável em comparação à autocompaixão ou a ser objeto de compaixão dos demais. Ela é fundamental para a vida em comunidade, mas é preciso ressaltar que a autocompaixão, embora ainda muito confundida e evitada, é um fator essencial para saúde mental. Falaremos nas próximas semanas sobre a compaixão direcionada a si.

“Que você possa ser feliz”

“Que você fique bem”

“Que se sinta seguro e aceito”

“Que você encontre paz”

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Martí, A. C., García-Campayo, J. & Demarzo, M. (Orgs.). (2018). A ciência da compaixão. São Paulo, SP: Palas Athena

Neff, K. D. (2019). Setting the Record Straight About the Self-Compassion Scale. Mindfulness10(1), 200-202.

Neff, K. D. & Germer, C. (2017). Self-Compassion and Psychological Wellbeing. In J. Doty (Ed.) Oxford Handbook of Compassion Science, Chap. 27. Oxford University Press.

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